“Greve Orquestrada”: Consórcio Guaicurus é acusado de usar motoristas como moeda de pressão
(Foto: Reprodução) Uma paralisação repentina de motoristas de ônibus na última quarta-feira (22) reforçou as suspeitas de que o Consórcio Guaicurus estaria criando cenários de caos e usando seus funcionários como massa de manobra para pressionar o poder público. O motivo imediato foi um atraso no vale-alimentação, mas a ação, que pegou os próprios trabalhadores de surpresa, levantou novamente a questão de uma suposta conluio entre a direção do sindicato da categoria e a cúpula da empresa.
A tática, segundo denúncias, seria simples: a concessionária, que detém um contrato bilionário com o município, dependeria de mais repasses públicos para honrar seus compromissos trabalhistas. Após o último episódio, a prefeitura adiantou R$ 1,6 milhão aos empresários. Funcionários e uma fonte que já trabalhou com a cúpula do Consórcio afirmam que a empresa financia e instrumentaliza o sindicato para atender seus próprios interesses.
O direito à greve é legal, mas deve ser uma decisão coletiva e autônoma dos trabalhadores, não sofrendo interferência do empregador. No entanto, relatos dos motoristas indicam que as paralisações são sempre repentinas e anunciadas sem diálogo prévio.
Essa não é uma situação isolada. Um padrão se repete: as greves “coincidem” sistematicamente com momentos-chave em que o Consórcio Guaicurus pressiona judicialmente a prefeitura por reajustes tarifários. Atualmente, a empresa busca na Justiça elevar a tarifa técnica de R$ 6,17 para R$ 7,79, o que injetaria mais R$ 45 milhões anuais em seus cofres.
A desconfiança “viraliza” entre os trabalhadores. Um motorista, sob anonimato, relatou que as decisões do sindicato não são espontâneas e que há pressão para aderir às paralisações. A credibilidade da entidade sindical é constantemente questionada, já que seus representantes raramente são vistos nos terminais.
Quem não precisou do anonimato foi o ex-motorista Weslei Conrado Moreli. Em entrevista no ano passado, ele declarou abertamente: “Pode ter certeza que essa paralisação não vem dos motoristas, é o sindicato e o patrão para aumentar a passagem. (…) Usam o motorista como massa de manobra”.
Ameaças em Ofício – A suspeita ganha força com as próprias comunicações formais do Consórcio. Em ofícios enviados à prefeitura, a empresa chegou a ameaçar atrasar salários caso determinados repasses não fossem feitos imediatamente, corroborando a acusação de usar o sustento dos trabalhadores como instrumento de barganha.
Suspeita de Locaute
Especialistas ouvidos pelo Jornal alertam que a prática descrita pode configurar locaute, uma paralisação induzida ou forçada pelo empregador, que é expressamente proibida por lei e constitui crime contra a organização do trabalho.
“Quando o empregador, direta ou indiretamente, força, incentiva ou organiza uma paralisação de empregados com o objetivo de atender aos próprios interesses empresariais, estamos diante do chamado locaute”, explica o advogado Tiago Alves da Silva, mestre em Direito pela USP.
A advogada Larissa M. Cantero complementa que a empresa e seus gestores podem responder criminal, trabalhista e civilmente. Ela orienta os funcionários a coletarem provas (mensagens, e-mails, gravações) e denunciarem a prática de forma anônima ao Ministério Público do Trabalho (MPT) para apuração.



COMENTÁRIOS